Paulo Antônio LaudaCirurgião-dentista e ex-professor da UFSM
A primeira estação férrea em Santa Maria, data de 1885. O Bairro Itararé existe a mais de um século. Neste local, moraram e viveram meus avós, meus pais. Na família Lauda, a qual faço parte, também já estamos nos aproximando de 1 século de permanência no referido bairro. Minhas primeiras 24 horas foram vividas nele (1961), onde moro até hoje. Tenho muitas histórias ouvidas e vividas para relembrar desta fração da cidade. É conhecido por ser o berço da ferrovia em Santa Maria e viveu grande apogeu junto com a Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS) e, depois ,Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Chegou a ser um dos principais centros ferroviários do Brasil.
No início da Era Vargas (década de 1930), Getúlio Vargas deu de presente para cidade o Monumento ao Ferroviário construído nos altos do Bairro Itararé para homenagear a classe. Com a queda da ferrovia, nosso bairro sofreu, e por um tempo ficou sendo apenas um bairro de casas de ferroviários aposentados e mesmo os membros ainda ativos mas que foram perdendo seu poder pretérito.
Hoje, um bairro remodelado, mais próspero e em constante busca de crescimento. O nome se deve a cidade de Itararé, em São Paulo, que era ligada por via férrea, por onde passavam grande parte da produção. Significa em tupi-guarani “pedra escavada”. Hoje é 12º bairro mais populoso da cidade. É o 20º bairro com maior número de idosos acima dos 60 anos (10%). Aqui funcionou a cooperativa da Viação Férrea (Vila Belga), o açougue, a torrefação de café e muitos outros empreendimentos ligados à ferrovia. Ela era chamada de Cooperativa dos Ferroviários. Meus antepassados compravam praticamente tudo por lá, desde alimentos até vestuário. E viviam suas vidas num convívio muito próximo com os vizinhos.
A pracinha da Locomotiva lá na Avenida Presidente Vargas contempla, em forma de monumento, uma pequena Locomotiva que parece ter vindo de Rio Grande e, talvez, tenha sido umas das primeiras a operar no Sul do Brasil. Ainda temos presente e funcionando o Clube de Futebol dos ferroviários, o nosso Riograndense Futebol Clube, hoje presidido por Lurdinha Trindade. Era muito comum, no passado, e eu vivi isso para contar, que as pessoas, após o expediente na ferrovia, se reunissem na frente das suas casas no Itararé para confraternizar e conversar sobre o cotidiano. Muitas famílias se formaram misturados com a história da ferrovia e do Bairro Itararé.Agora em 2022, surgiu uma ideia liderada pelo morador Idarlei Pereira, em reunir, numa confraria, os antigos e novos moradores, os investidores, e todos que se consideram amigos do bairro. O motivo? Com a reunião de ideias e de boas vontades para tentar resgatar a sua história, seus feitos e busca constante de produzir ações prósperas para todos. Já nos reunimos algumas vezes no Salão Paroquial da Igreja Santa Catarina, sempre regado de uma boa conversa, e discutindo novas propostas e ações para o bem comum. Quero aqui homenagear a todos os participantes por dispensar parte do seu precioso tempo para tentar contribuir com o nosso cantinho e lembrar aquele convívio tão saudável do passado. Deixo um grande agraço!
Leia todos os Colunistas